Friday, October 12, 2007

Landscape spoilers


É a primeira vez que vou escrever um post deste tipo, mas tenho mesmo que o fazer, por isso, espero que me desculpem. A questão tem relação com a imagem aqui em cima, que representa uma vista da serra de Montesinho, parte de um Parque Natural e também de uma rede de áreas naturais de importância a nível europeu, a Rede Natura 2000. É aqui que vive a mais importante das últimas populações de lobo ibérico, aves de rapina e uma lista quase infindável de fauna selvagem, assim como espécies raras, muitas delas endémicas, da nossa flora.

Há muitos anos que venho até aqui, para um passeio, para mostrar a amigos que vêm de fora, ou simplesmente para um piquenique com a família, como foi o caso neste Verão, quando fiz este desenho. Infelizmente, a serra tem vindo a mudar e as perspectivas de futuro são de que vá ficar ainda pior. Tudo começou com algumas ventoinhas, de um parque eólico no lado espanhol, uma área que, ao contrário da nossa, não é protegida (porque em Espanha, tanto quanto sei, não existem parques eólicos dentro de áreas protegidas, o que, aliás, me parece muito bem). Em vez de ter requerido um estudo de impacto ambiental, como seria seu dever, o governo português comportou-se como se nada estivesse a acontecer. E o número de torres foi crescendo.

Durante o nosso piquenique, bem tentámos olhar para o outro lado e - à semelhança do governo - fazer de conta que não era nada e continuar a usufruir o nosso dia no campo. Só que foi impossível. Estávamos perto da fronteira, e mesmo olhando noutra direcção, não conseguíamos escapar ao barulho do parque eólico! Um som constante e desagradável, semelhante ao de uma autoestrada ou tráfego de uma grande cidade, na distância. Simplesmente horrível para quem percorreu uma série de quilómetros em busca de um dia num espaço natural, rodeado pelos sons calmantes da natureza... Connosco levámos uma das nossas cadelas, e ao vê-la entrar em pânico com aquele ruído (que para os ouvidos sensíveis de um canídeo deve ser bem mais perturbador), não pudémos deixar de pensar naquilo porque estarão a passar os pobres lobos...

Mas as notícias verdadeiramente más não são, sequer, estas, e sim o facto de o ministro do Ambiente ter declarado publicamente que vai levantar a interdição de construção de parques eólicos dentro do Parque Natural de Montesinho (PNM) que foi proposta pelos seus técnicos. Proposta esta, suportada por estudos que provam que, para Portugal atingir os níveis desejáveis de produção de energia eólica, não há necessidade de sacrificar qualquer área protegida. Muitos habitantes locais, ncluindo - evidentemente - os operadores turísticos, são contra a instalação de parques eólicos. A grande maioria, no entanto, não faz a menor ideia daquilo que se está a passar. As razões do ministro? As velhas e tristes razões políticas. Não os interditando, os parques eólicos serão possíveis sob certas condições, que não são nem objectivas nem claras, e portanto podem ser usados como moeda de troca para obter apoio político.

A proibição dos parques eólicos faz, por enquanto, parte do regulamento do Plano de Ordenamento do Parque Natural de Montesinho, que está neste momento em discussão pública. Eu vou preencher a minha ficha de participação, disponível aqui, na qual vou declarar o meu apoio à manutenção da interdição, não só dos parques eólicos, como de outras grandes infraestruturas "que descaracterizem significativamente a paisagem" (alínea j) do artigo 8º do Regulamento). Convido-vos a todos, desde que nisso acreditem, a fazer o mesmo. O formulário está em português, mas pode ser preenchido noutras línguas, por pessoas de qualquer nacionalidade. Pode ser enviado pelo correio para: Parque Natural de Montesinho, Bairro Rubacar, R. Cónego Albano Falcão, lote 27, 5300-044 Bragança, Portugal. Mas temos que nos despachar, porque a data limite é já o dia 17 de Outubro.

* * *
This is the first time I'm writing this kind of post, but I really have to do it, so I hope you will forgive me. It has to do with the picture above, a view of Montesinho, a beautiful and wild landscape, part of a Natural Park and also a network of natural areas of European importance known as Natura 2000. This is where the most important of the last Iberian wolf populations lives, the home of birds of prey and an array of other incredibly diverse wild fauna as well as rare, often endemic flora.

Living close, I've been going there for many years for a walk, to show it to visiting friends, or just for a picnic with my family, as was the case this summer, when I did this sketch. Unfortunately, things are not how they used to be and the threat is that they will get much worse in the near future. It all started with a few wind towers on the Spanish side of the border, which is not protected (because in Spain, as far as I know and is, in my opinion, very logical, there are no windfarms inside protected areas). Instead of demanding an environmental impact assessment, as was its duty, the Portuguese Government just pretended nothing was happening. So the number of towers just kept growing.

During our picnic, we tried looking the other way and - like the Government - pretend nothing was happening and go on enjoying our day in the wilderness. But it was impossible. We were near the border and even if we looked the other way, we could not escape the sound of it! A constant, buzzing sound, just like that of motorway or city traffic in the distance. Truly horrible, for someone looking for a day in the wild, surrounded by the soothing sounds of nature... We had also taken one of our dogs with us and watching her panicking over the noise (probably much worse for the sensible dog's ears), we couldn't help wondering about what was happening to the poor wolves...

But the really bad news is the Portuguese Minister of the Environment has publicly declared that he wants to change the interdiction of building windfarms inside the Park, that has been proposed by his technicians. This proposal is supported by a series of studies that have proved that for Portugal to reach a desirable level of green energy production through windfarms, there is no need to sacrifice any protected area. Many people of the area, including, of course, tourism operators, are in favour of keeping the windtowers away from the Park. The great majority have no idea about what is going on. So why is this happening, you may ask? The old, sad reason: politics. By not interdicting them, the windfarms will be possible under certain conditions, which are neither clear or objective, meaning it will always be possible to use them to get political favour.

The windfarm interdiction is part of the regulation of the Plano de Ordenamento do Parque Natural de Montesinho, currently under public discussion. I am filling in my participation form (ficha de participação), available here, where I am declaring my support to the proposed regulation, that windfarms, together with other large infrastructures that represent landscape spoilers, should not be allowed inside the Park. I invite all of you who believe in this, to do the same. The form is in Portuguese, but you can fill it in in your own language, sign it and mail it to: Parque Natural de Montesinho, Bairro Rubacar, R. Cónego Albano Falcão, lote 27, 5300-044 Bragança, Portugal. But we need to hurry, the deadline to submit our opinions is the 17th of October.

3 comments:

  1. Hi, just read the whole blog. And was very very intersted in your comments and your concern for the environment. I agree with you wind farms should not be placed on any protected land, or park area.

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  2. Amanhã! Bolas. Isto é algo porque vale a pena fazer barulho.
    Nunca visitei o parque de Montesinho, apesar de ter passado 7 anos em Vila Real, mas pelo que conheço acho que é lamentável. O pessoal nunca mais percebe que o primeiro dos 3 Rs é reduzir e não remediar.

    Obrigada pela visita no cores da terra, gostei muito de conhecer o teu blog e os teus desenhos, também vou voltar!

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  3. olá ana. li com muita atenção o seu "artigo" (aliás, como sempre).
    de facto a colocação de "ventoinhas" na serra, provavelmente é dos maiores disparates que tenho ouvido.para além dos aspectos por si já "analisados" há também de referir um outro que por vezes escapa às pessoas. as infaestruturas que são necessárias para a colocação dos "postes"...pois eles não aparecem na serra vindos de heli...!aconselho um passeio até aos locais onde eles estão implantados e verifiquem as "auto-estradas" existentes...e imaginem a destruição que vai acontecer para a criação das mesmas infraestrutiras (ou será que vamos partilhar os caminhos?)!enfim. os espanhóis utilizaram o fundo do quintal para os colocar, nós vamos destruir uma das poucas belezas naturais que nos vai restando. é portugal no seu melhor

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