Saturday, April 26, 2014

Um jardim selvagem / A wild garden

Descobri, finalmente, o blog que responde aquilo que andava há anos à procura. Chama-se Jardim Autóctone e descreve o dia-a-dia da criação e manutenção de um jardim feito à base de plantas nativas do nosso país. Em Portugal ocorrem milhares de plantas silvestres lindíssimas, que não ficam nada atrás - e muitas vezes ficam até muito à frente - das plantas exóticas que normalmente se usam em jardinagem. Sempre me intrigou porque razão não são mais usadas. Para além de serem bonitas e de fornecerem alimento e abrigo a muitas espécies de animais, têm a vantagem adicional de se terem adaptado, durante milhares de anos, às nossas condições de solo e clima, pelo que são naturalmente resistentes e necessitam de poucos cuidados. O ideal para uma jardineira preguiçosa com pouco tempo como eu...
Rosmarinus officinalis

O meu jardim não é um jardim autóctone, mas gosto de pensar que para lá caminha. Entre outras, tem lilases e sardinheiras, crisântemos, narcisos e crocus. Mas também tem uma madressilva, recolhida no monte há dois anos e transplantada com sucesso. Está à espera de mais companheiras, mas este ano falhei a época e acabei por não recolher mais... Tem estevas e giestas,rosmaninhos (aqui conhecidos como arçã), alecrins, estevões e outras duas espécies de cistaceas ainda por identificar. Tem as lindíssimas, embora venenosas, eufórbias (E. oxyphylla). As mais recentes aquisições, todas elas recolhidas nas redondezas, foram as pascoelas (nome pelo qual são conhecidas nesta zona as prímulas), as violetas e dois medronheiros - já há uns anos havia plantado um, mas sem sucesso, vamos ver se desta vez tenho mais sorte.
Primula acaulis
 
Uma coisa é certa, a utilização de plantas autóctones - desde que compradas em locais de confiança ou recolhidas sem prejuízo para as populações silvestres, tem inúmeras vantagens. As plantas compradas nos hortos convencionais, pelo contrário, para além de serem frequentemente exóticas, exigirem mais cuidados e ficarem mais caras, podem ter outros problemas. Um estudo encomendado pela GreenPeace mostrou que uma grande percentagem das plantas ornamentais de uma amostra recolhida em centros de jardinagem e supermercados europeus não respeita a legislação que regula o uso de pesticidas nocivos, entre outras espécies, para as abelhas. Podem ler o artigo (em inglês) aqui e fazer o download do estudo aqui. Portugal não se conta entre os países onde foram recolhidas amostras, mas Espanha, França e Holanda, sim, entre muitos outros de onde importamos plantas ornamentais. Portanto, amigos jardineiros, na hora de comprar as vossas plantas, sejam cuidadosos. Em Portugal há hortos e empresas que cumprem todas as regras e ainda vão para além delas. Um exemplo - que estou á vontade para publicitar, pois não ganho nada com isso - é o Cantinho das Aromáticas, onde são vendidas plantas envasadas produzidas em regime de agricultura biológica, muitas delas pertencentes à nossa flora.

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Euchloe crameri on gum rockrose fruit

I have finally found the blog I've been looking for since a long time ago. It is called Jardim Autóctone and describes the creation and maintenance of a garden made up of Portuguese native plants. There are thousands of beautiful native plants in our country, some of them so much lovelier than the exotic ones usually grown in traditional gardens. I've wondered many times why they are not used more often. In addition to being pretty and serving as food and shelter for many animal species, native plants have evolved for thousands of years in this area, so they are perfectly adapted to our soil and climate conditions, meaning they are naturally resistant and they require little care - the perfect thing for a lazy busy gardener like me...
Euphorbia oxyphylla

My garden is not an indigenous garden (yet), but I like to think it is developing in that direction. Among others, my garden hosts lilacs and geraniums, chrysanthemums, daffodils and crocus. But it also has a honeysuckle, collected two years ago in the wild and now waiting for company (this year I failed to go into the field on time and get a few more). I also have gum rockroses and gorse, rosemary, poplar leaved rockroses, also known as major rockroses and two other cistus species yet to be identified. My most recent acquisitions, all of them collected nearby, are primulas, violets and two strawberry trees - I had already planted one a few years ago but it did not survive, let's see if this time I have more luck.

One thing I know for sure, the use of native plants - as long as they are purchased from reliable stores or collected without harming wild populations - has multiple  advantages. Plants purchased in traditional orchards, on the contrary, besides being often exotic, expensive and demanding more attention, may have other problems as well. A study recently undertaken by GreenPeace showed that the majority of a sample of ornamental plants sold in European garden centres and supermarkets do not comply with the legislation that regulates the use of bee-killing pesticides. You can read the article here and download the study here. Portugal is not among the countries where samples were collected, but Spain, France and Holland, among many others from which we import ornamental plants were included. Therefore, fellow gardeners, when the time comes to buy your plants, be careful. In Portugal there are nurseries and companies that meet all the rules and even go beyond them. An example - I am feel free to advertise as I am not getting an profit here - is the Cantinho das Aromáticas, that sells organically grown potted plants, many of them belonging to our native flora.

Friday, April 18, 2014

A Horta em Abril / Vegetable Garden in April



Primavera é sinónimo de início de trabalho a sério na horta. Agora que temos uma estufa, podemos começar um pouco mais cedo (aqui no nordeste, as geadas prolongam-se pelo mês de Abril fora, pelo que, antes de termos estufa, só começávamos a tratar da horta em Maio - um enorme contraste relativamente ao resto do país!).
Em meados de Mao começámos a preparar o solo no interior da estufa e fizémos as primeiras sementeiras: 3 variedades de alface, couve-roxa, tomate-coração-de-boi (o nosso preferido, pelo sabor e polpa abundante) e cebola.
Lá fora, transplantámos outras cebolas, que tinham sido semeadas ainda mais cedo e estado a crescer na estufa durante o inverno (reparem bem no meu "plantador" especial... é um pauzinho aguçado encontrado por ali, mas que faz o seu trabalho tão bem como aqueles todos bonitos que se vendem na loja).
Também semeámos ervilhas e grão e arrancámos as ervas que quase escondiam os canteiros dos alhos, dos morangueiros e das favas.
Já próximo do final de Março, plantámos tomateiros e pimenteiros trazidos do sul do país pelos meus pais (aqui só começam a aparecer mais tarde) e semeámos feijões, tudo dentro da estufa, claro está, caso contrário seria morte certa pelo frio...
Finalmente, hoje comprei sementes de milho doce e rabanetes (estes últimos vão ser uma estreia), que planeio semear esta semana, juntamente com alguns espinafres, que sobraram do ano passado. 
Para além da horta, a Primavera mostra-se em todos os cantos: nos marmeleiros carregados de flores, na figueira cheia de minúsculos frutos - que contraste com estes, no jardim do Zé Júlio, no Algarve! Rezo para que uma geada não os leve a todos (e a mais outras coisas: morangos, cerejas, ginjas, etc....) Nesta altura do ano penso sempre no tempo (que não foi assim há tanto tempo) em que as pessoas dependiam da terra para se alimentarem e  numa única noite de gelo perdiam quase tudo. Aquilo que hoje, para nós, não passa de um contratempo, podia significar, nessa época, muitos meses de fome ou subalimentação...

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The beginning of spring means it is time to get serious about the vegetable garden. Now that we have a greenhouse, we can start a bit earlier. So on 12th March, we started preparing the soil inside the greenhouse and we have sown the first seeds: 3 varieties of lettuce, red cabbage and Beefsteak tomatoes (our favourite because of the great flavour and abundant flesh).  

Outside, we have transplanted onion shoots that have been growing since winter (take a look at my special "planter" in the Portuguese version above - a small pointed stick does the job just as well as the store bought thing) and sown peas and chickpeas. We also started weeding the garlic, strawberry and fava bean beds. 

By the end of the month, we planted tomato and pepper seedlings brought by my parents from the south of the country (it is too early yet to find them on sale here in the northeast) and we have sown beens too.
Today I bought some sweet corn and radish seeds and plan to sow them this week, together with some leftover spinach seeds from last year. Then we'll be transplanting some Cherry tomatoes that grew up inside the greenhouse (they've been growing on their own like weeds ever since we have sown them for the first time, several years ago, so every year we leave a few plants, whenever they sprout on a convenient spot, or transplant them to a better one, if that is not the case).
Everywhere spring is showing at its best: the quince trees in full bloom, the fig trees with the first tiny fruits. I am praying the weather will keep mild, as April frosts are not uncommon around here but if they come too harsh, they can destroy the fragile figs, not to speak of other crops. This always makes me think of the - not so long ago - times when people depended on their land to feed their families and bad weather, instead of being just a nuisance, as it is for us, could mean several months of hunger...