cartoon by Cal Grondahl from the book The Network Marketing Game, 1997 by Jon M. Taylor |
Conhecem aquela sensação de começar a ler um livro e encontrar imensas coisas que vão exactamente de encontro aquilo que pensamos desde há muito tempo, mas que nunca tínhamos conseguido pôr em palavras? Ou até tínhamos, mais ou menos (tal como eu fiz aqui, a propósito do valor monetário que podemos atribuir ao nosso tempo), mas de uma forma muito mais rudimentar e menos elaborada?
Bom, isto é exactamente o que me está a acontecer com o livro que estou agora a ler - Your Money or Your Life (que não consegui encontrar em português, mas julgo que podíamos traduzir como "A Bolsa ou a Vida"), de Vicki Robin e Joe Dominguez.
O que é curioso é que, se eu tivesse pegado neste livro numa livraria, teria certamente voltado a poisá-lo no expositor depois de uma vista de olhos à capa e não voltaria a pensar mais nele. É que a capa está cheia daquelas frases do tipo "como deixar de ter dívidas e começar a poupar", "reordene as suas prioridades materiais e viva melhor por menos dinheiro", etc. Em suma, um típico livro de auto-ajuda sobre finanças pessoais, que não é um tema que me interesse particularmente.
Mas felizmente, eu já tinha lido acerca deste livro em vários sítios (como por exemplo este aqui) e sabia que é um dos casos em que não se deve julgar o livro pela capa. É que lá dentro discutem-se assuntos bem mais interessantes, tais como os conflitos interiores entre os nossos valores pessoais e o estilo de vida que levamos na prática, ou a avaliação das nossas despesas à luz do nosso "propósito de vida", sendo que este propósito implica mais do que trabalhar para atingir um objectivo (reformar-se aos 50, por exemplo) ou adquirir um bem há muito desejado (digamos, comprar uma casa).
A propósito dos diferentes tipos de motivações que podem estar na base das nossas acções, gostei muito da fábula dos três pedreiros, que desbastavam um grande bloco de pedra, e que ilustra os três tipos de motivação para o trabalho mais frequentes - trabalhar para atingir um objectivo, trabalhar por atribuição de um significado e dedicação:
Um passeante aproxima-se do primeiro pedreiro e pergunta, "Desculpe, o que é que está a fazer?" O pedreiro responde asperamente, "Não está a ver? Estou a desbastar este pedregulho." Aproximando-se do segundo homem, o nosso curioso passeante faz-lhe a mesma pergunta. Este homem olha-o com um misto de orgulho e resignação e diz, "Bem, estou a ganhar a vida para sustentar a minha mulher e os meus filhos." Passando para o terceiro trabalhador, o passeante pergunta mais uma vez, "E você, o que está a fazer?" O terceiro pedreiro volta-se para o visitante, com o rosto a brilhar, e diz com reverência, "Estou a construir uma catedral!"
Moral da história: o significado que atribuímos a uma acção tem origem no nosso interior e não na acção propriamente dita.
Na minha opinião, é um livro de leitura obrigatória, com excelentes conselhos práticos que nos ajudam a olhar para a forma como gastamos o nosso dinheiro como um reflexo da maneira como vivemos as nossas vidas, avaliar se essa é realmente a forma como as queremos viver, e agir em conformidade. O mais provável é virmos a descobrir que andamos a gastar mais do que julgamos valer a pena em coisas que não trazem valor acrescido às nossas vidas, e se calhar poderíamos gastar mais noutras que nos colocariam num caminho mais directo ao nosso propósito de vida. Acho que ao fazer-nos ver o poder e o valor (do ponto de vista financeiro) de nos livrarmos daquilo que é menos importante nas nossas vidas, este livro se pode considerar uma espécie de guia de finanças pessoais em versão para minimalistas.
Tanto quanto consegui apurar, o livro não está traduzido em português, eu comprei-o na versão inglesa e posso dizer que é de leitura bastante fácil - o inglês é simples, sem floreados e acessível.
Entretanto, já enviei um e-mail a uma editora portuguesa a sugerir que o traduzam - para além deste período me parecer propício à publicação deste tipo de livros, acho que é daqueles que vale a pena divulgar, pois pode, realmente, ajudar a fazer as pessoas adoptarem uma perspectiva diferente em relação ao modo como vêem as suas vidas e tentar mudar para melhor. Não sei se a editora vai dar alguma importância ao meu e-mail, mas acredito no poder dos
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Do you know the feeling when you start reading a book and find in writing many things you've been thinking to yourself, but some of them you've never been able to put into words before, and others you sort of did put them into words (like I did here regarding the attribution of a price to our time) but that book just takes them to a higher level? Well, this is exactly what is happening to me with Vicki Robin and Joe Dominguez Your Money or Your Life, that I am currently reading.
The funny thing is, if I had picked up this book on a bookstore, I've probably put it down after looking at the cover and not give it a second thought. That's because it boasts about teaching how to get out of debt and develop savings, reorder material priorities and live well for less, etc. In summary, a typical self-help book about personal finances, something that is not in my immediate range of interests.
Fortunately, I had read about this book before (here, for instance) and knew that it discusses things way more interesting and thought provoking, such as inner conflicts between values and lifestyle and evaluating our expenditures in light of our "life purpose", being that "life purpose" is more than simply achieving a goal (retire by 50, for instance) or acquiring some longed-for possession (e.g. buy a house).
I loved the tale about the three stonecutters, each chipping away at a large block, that illustrates the three most common kinds of purpose - goal, meaning and dedication:
A passerby approaches the first stonecutter and asks, "Excuse me, what are you doing?" The stonecutter replies rather gruffly, "Can't you see? I'm chipping away at this big hunk of stone." Approaching the second craftsman, our curious person asks the same question. This stonecutter looks up with a mixture of pride and resignation and says, "Why, I'm earning a living to take care of my wife and children." Moving to the third worker, our questioner asks, "And what are you doing?" The third stonecutter looks up, his face shining, and says with reverence, "I'm building a cathedral!"
Moral of the story: the meaning we give to an action comes from within us, not by the action.
Back to the book, it really has great practical advice that helps us look at our spending as a reflection of how we're living our lives, judge whether this is the way we really want to be living them and then, act accordingly. Chances are, we'll find we're spending way more than we think is worth on things that don't bring value to our lives and we're might be spending less on others that would put us in a path more aligned with our life purpose. I guess I could say that by showing us the financial value of getting rid of the things that are less important in our lives, this book is a sort of minimalist version of personal finances. By all means, a must read.
Meanwhile, I sent an e-mail to a Portuguese publisher suggesting they translate it - the crisis period we are going through couldn't be more appropriate. I don't know if the publisher will pay any attention to my suggestion but I believe in the power of
Concordo consigo, que é muito mais importante ter menos dinheiro e algum tempo para viver realmente a vida, fazendo as coisas simples que gostamos.
ReplyDeleteSigo cada vez mais essa regra.
E acredito que muita gente a seguiria se tivesse opção.
Em inglês não consigo ler o livro, mas se aparecer em português hei-de comprá-lo.
Bom domingo!
O que este livro me fez ver, de uma maneira mais clara do que já me tinha apercebido, foram todos os custos indirectos associados a determinados tipos de trabalho.
ReplyDeleteO livro já é bastante antigo, e foi sofrendo várias re-edições e actualizações tal foi o sucesso que teve. Parece-me uma boa aposta como edição, mas a editora o dirá...
Obrigada pela visita!
Pela descrição, também não teria pegado nesse livro! Mas agora estou mesmo muito curiosa, principalmente porque estou cheia desses conflitos interiores de que fala!
ReplyDeleteObrigada pela partilha! :)
Também não gosto de livros que têm este tipo de título ou subtítulos, dá-me sempre a ideia de que o livro precisa disso para vender e que provavelmente o conteúdo não vale a pena. Pela tua crítica, parece ser um livro com conteúdo bastante interessante no que toca a reavaliarmos a nossa forma de viver e os nossos gastos. Já adicionei-o à minha wish list!
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